07- Afinal, de que valem as tendências pedagógicas?



Enquanto o sistema de gerenciamento econômico que predominar na terra for o capitalismo selvagem, explorador e concentrador de rendas e lucros, a educação não poderá jamais respirar aliviada e fazer o seu trabalho de modo a atender os desejos das populações. Esta é uma regra basilar em qualquer parte deste planeta que um dia disseram ser azul.
Os nossos pedagogos terão muito trabalho infrutífero a estudar e criar métodos e técnicas de ensinagem que não atingirão jamais a meta, pois não existe uma unicidade de aplicação do conhecimento construído, nas diversas camadas sociais (algumas até mesmo antissociais) e principalmente face aos desejos mais diversos e obtusos que cada faceta desse tal capital possa exigir. É condição sine qua non para o sucesso do capital que a população tenha o menor grau de desenvolvimento intelectual possível, para não causar transtornos ao processo exploratório da mão de obra que carece, ainda mais, ser barata.
Se pararmos um minuto para examinarmos algumas dessas técnicas e métodos de ensinagem, veremos nas suas entrelinhas a existência de uma exigência capitalista para formar o homem na justa medida da sua necessidade produtiva, nada mais. Eu insisto na ensinagem, pois percebe-se que não existe desejo de fazer a pessoa aprender, ela precisa apenas repetir o que lhe ensinam a fazer e a não questionar o resto. É o famoso caso do colocador de parafusos de roda nos carros da Ford, ele só aprendeu a fazer aquilo, é o que faz e não deve questionar outros saberes. Essa é a nossa escola: treinar mão de obra barata e não questionadora para atender ao capital. Este, por sua vez, prepara antecipadamente o caminho para que os futuros trabalhadores não estranhem o trajeto. É o que estamos protagonizando atualmente com as famosas Escolas Técnicas de índole militar. Elas são hoje, a menina dos olhos de nossos desgovernantes, servos do tipo vira-latas da grandes potências mundiais que ditam o regime produtivo de cada um, não importa se ao custo do desmatamento da Amazônia, ou  dos acidentes de Brumadinho e Mariana.
O Capital, como se costuma dizer na gíria sábia do nosso povo, não dá ponto sem nó. A popularização, podemos até dizer a inundação de telefones celulares está diretamente ligada a um dos desejos do capital: ter pessoal minimamente entrosado com o que chamam de Novas tecnologias, visualizando lá na frente a utilização da Inteligência Artificial – IA – na qual o capital está apostando grande parte de suas fichas.
Portanto, as nossas tendências pedagógicas com base na filosofia, na Sociologia e na Psicologia não atendem, desde os primórdios da consolidação do capital, os desejos mais recônditos deste. Tem muito pedagogo defendendo o “aprender a fazer, fazendo”. Ora esse é o lema do capitalismo e não vai mais além: “Aprenda a fazer o que eu preciso e não vá mais além, venha para o chão da fábrica, produzir o lucro que eu quero ter”. Será essa uma boa técnica de ensinagem? Será esse um bom método de aprendizagem, quando sabemos que 90% dos saídos da escola não conseguem colocação no campo de trabalho? Essa, aliás, é outra estratégia do capital: ter trabalhadores de reserva em abundância, pois isso ajuda a baratear o custo da mão de obra.
O nosso sistema produtivo é vil, a tal ponto de se desfazer do seu próprio produto final para forçar a subida do custo ao consumidor, isto é, para produzir mais lucros. O mundo está ficando cada dia mais lotado de pessoas que beiram a morte por causa da fome, mas é fato que nos países maiores exportadores de produtos de consumo humano são frequentes as cenas em que se vê o produtor do leite jogar o leite no asfalto, mas não o dá a quem carece tanto dele; o produtor de batata e milho joga a produção no chão e passa com o trator por cima, enquanto ali ao lado, na assistência tem gente morrendo de fome.
A nossa escola nos ensina a olhar para essas cenas e pensar capitalistamente, “se você trabalhar bem não terá necessidade que ninguém lhe dê nada, basta fazer a sua parte”, mas se olharmos atentamente, nem isso ela nos ensina direito. Perceba: “Eva viu a uva”, mas jamais, “Eva comeu a uva”, porque se Eva comer a uva, o capitalista terá um tremendo de um prejuízo: o produto que não lhe renderá lucro, e o tempo que a Eva perdeu para comer o tal produto.
O meu repto aos nossos pedagogos e sociólogos, entre outros pensadores da situação populacional é o de provocarmos o capital a enveredar por um caminho que o conduza ao lugar de onde mais não possa sair para praticar mais maldades, quase a aplicação de uma armadilha. Marx já um dia no passado disso que o capital por si só se destruirá. Podemos dar uma ajudinha? Olhemos, para tanto, à nossa volta e percebamos a desgraça que avança sobre a esmagadora maioria da população mundial e digamos não ao consumismo, unamo-nos para consumirmos menos: dois professores (já que se fala em escola) podem ir no mesmo carro para a escola, não precisam ir cada um no seu; um pode emprestar o seu livro ao colega, não precisa que cada um tenha o seu; passe mais um ano com seu carro usado, antes de comprar um outro, use os produtos que a natureza lhe dá e deixe de comprar produtos fabricados: use flores naturais em ves de aromatizantes. Compre menos um celular última geração e utilizem o seu velhinho por mais uns tempos. E tantos exemplos que aqui poderíamos dar.
O nosso mundo ainda pode ser salvo, só depende de nós. O capital precisa de consumidores, se estes começarem a rarear ou mesmo a desaparecer, ele precisará se repensar. Então, um dos deveres maiores da nossa escola é preparar o cidadão para a sua autossuficiência e o capital se precipitará nas profundezas do inferno. Não é fácil, eu sei, mas depois do primeiro passo quase sempre vem o segundo e os seguintes se houver coragem e incentivo para isso.
Façamos a nossa parte.

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